Titulo: O Coração Tem Três Portas (duplo álbum + DVD) Autor: Dulce Pontes Preço: 39.00 Frs. Edição: 2006
Descrição: Um disco vivo, ao vivo. Com a gaita-de-foles, os aplausos, as lágrimas, as imperfeições de uma gravação que não pode e não quer ser asséptica, perfeita, feita, tal como na verdade o foi, dos revérberos dos teatros, dos espaços abertos, das igrejas e claustros dos refeitórios e armazéns, feita, enfim, de lugares em tudo especiais. O coração tem três portas: amizade, amor, famÃlia. Encontra mil e uns ensejos por viver, abre-se aos reflexos da nossa história, da nossa cultura, das nossas emoções. E depois encontra mil e outros mil ensejos, que não terminarão jamais (assim o esperemos) : nesta agonia canto e choro de alegria, quer dizer que tenho tudo diante de mim e que tudo darei, a mim próprio e aos outros. Comunico, com a música, luto pelo meu destino: gostaria de o poder mudar e, dentro de mim, faço-o sem porém o saber, contudo fazendo-o.
Um disco de fado, logo um disco do destino. O nosso. Mas também um disco antigo das nossas origens, do folclore, um disco dançado, um disco movimentado, representado, cheio de flores na calçada, que voam quando passamos, ou apenas quando suspiramos. Um disco de saudade, de regressos esperados, previstos, desejados. Causa uma certa impressão ouvi-lo, depois de se o ter vivido. Depois de ter visto Dulce mudar a expressão do rosto, sentada ao piano ou com os pés nus, apurando o ouvido para tentar compreender aquele som que lhes chegava do lado direito, cruzado com o que provinha da esquerda ou com o que se aproximava vindo da frente. Causa uma certa impressão pensar nas portas que atravessámos juntos, talvez a noite em Tomar; portas que se abrem sobretudo quando se abre o nosso coração: é este o sentido das coisas, no fundo. Custa rodar o ferrolho se não formos primeiro capazes de o conceber dentro de nós mesmos. Somos nós que abrimos as nossas portas ou, então, que as fechamos quando não as sabemos atravessar. Porque o nosso temor é passar por elas sem ter depois a possibilidade de voltar atrás. Mas também não nos apercebemos disto: quem sabe se caminhamos sempre para a frente? Quem sabe se adivinhamos sempre o caminho? Nós!
Somos nós quem o dizemos. Atravessamos estas portas que estão no nosso coração e nunca nos voltamos – é verdade!
Não temos dúvidas acerca da nossa honestidade e se as tivemos, recomeçar-se-á tudo do inÃcio e isso poderá ser deprimente.
É neste momento que desejarÃamos mudar o nosso destino, mas este persegue-nos, tal como a gaita-de-foles, as lágrimas, o violoncelo, a saudade. Desta forma, será então justo acolhê-lo, observá-lo da mais alta torre, rezando laicamente por ele: uma Ane-Maria, talvez, bem dirigida ao nosso coração, Bem santificada.
Um disco que nos entra dentro, que nos faz lembrar de onde vimos e de quanto esforço temos de fazer para chegar algures, sem nunca sucumbirmos à fadiga e à dor. O fado, Amália, João Mendonça e Gastão Neves, Pessoa e os nomes que não são nomes, mas também a vontade de sorrir e de se abrir ao sol. A vontade de viajar através do tempo, através das sensações, através dos ritos.
Encontramos, no fim da nossa viagem, o Graal; aquilo que temos dentro de nós e que queremos proteger num dos nossos portos-de-abrigo. O coração tem três portas. Não o sabÃamos mas Dulce fez com que vÃssemos e agora abri-las. Obrigada, senhora, até à próxima etapa do nosso destino. Riccardo Jannello |